Betina von Staa
A intenção é trazer para cá algumas
das ideias
que a gente vê perdidas pelo mundo — real ou virtual
(Blog de Nelson Vasconcelos)
que a gente vê perdidas pelo mundo — real ou virtual
(Blog de Nelson Vasconcelos)
Nesse mundo da tecnologia, inventam-se tantas
novidades que realmente é difícil acompanhar todas as possibilidades de
trabalho que elas abrem para um professor. Recentemente, surgiu mais uma: o
blog.
Mas o que vem a ser isso? Trata-se de um site
cujo dono usa para fazer registros diários, que podem ser comentados por
pessoas em geral ou grupos específicos que utilizam a Internet. Em comparação
com um site comum, oferece muito mais possibilidades de interação, pois cada
post (texto publicado) pode ser comentado. Comparando-se com um fórum, a
discussão, no blog, fica mais centrada nos tópicos sugeridos por quem gerencia
a página e, nele, é visualmente mais fácil ir incluindo novos temas de
discussão com frequência para serem comentados.
Esse gênero foi rapidamente assimilado por jovens
e adultos do mundo inteiro, em versões pessoais ou profissionais. A novidade é
tão recente; e o sucesso, tamanho, que em seis anos, desde o início de sua
existência, em 1999, o buscador Google passou a indicar 114 milhões de
referências quando se solicita a pesquisa pelo termo “blog”, e, só no Brasil,
aparecem 835 mil resultados hoje.
No mundo acadêmico, por sua vez, esse conceito
ainda é praticamente desconhecido. O banco de periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) não apresenta nenhuma
referência sobre o tema e, mesmo em buscas internacionais, são pouquíssimos os
trabalhos a respeito do que se pode fazer com um blog nas escolas. Todas as
referências encontradas estão no pé deste artigo.
Não é à toa que tantos jovens e adultos começaram
a se divertir publicando suas reflexões e sua rotina e que tantos
profissionais, como jornalistas e professores, começaram a entrar em contato
com seu público e seus alunos usando esse meio de comunicação. No blog, tudo
acontece de uma maneira bastante intuitiva; e não é porque a academia ainda não
disse ao professor que ele pode usar um blog que essa forma de comunicação deve
ser deixada de lado. Com esse recurso, o educador tem um enorme espaço para
explorar uma nova maneira de se comunicar com seus alunos. Vejamos sete motivos
pelos quais um professor deveria, de fato, criar um blog.
1- É divertido
É sempre necessário termos um motivo genuíno para
fazer algo e, realmente, não há nada que legitime mais uma atividade que o fato
de ela ser divertida. Um blog é criado assim: pensou, escreveu. E depois os
outros comentam. Rapidamente, o professor vira autor e, ainda por cima, tem o
privilégio de ver a reação de seus leitores. Como os blogs costumam ter uma
linguagem bem cotidiana, bem gostosa de escrever e de ler, não há compromisso nem
necessidade de textos longos, apesar de eles não serem proibidos. Como também é
possível inserir imagens nos blogs, o educador tem uma excelente oportunidade
de explorar essa linguagem tão atraente para qualquer leitor, o que aumenta
ainda mais a diversão. O professor, como qualquer “blogueiro”, rapidamente
descobrirá a magia da repercussão de suas palavras digitais e das imagens
selecionadas (ou criadas). É possível até que fique “viciado” em fazer posts e
ler comentários.
2- Aproxima professor e alunos
Com o hábito de escrever e ter seu texto lido e
comentado, não é preciso dizer que se cria um excelente canal de comunicação
com os alunos, tantas vezes tão distantes. Além de trocar ideias com a turma, o
que é um hábito extremamente saudável para a formação dos estudantes, no blog,
o professor faz isso em um meio conhecido por eles, pois muitos costumam se
comunicar por meio de seus blogs. Já pensou se eles puderem se comunicar com o
seu professor dessa maneira? O professor “blogueiro” certamente se torna um ser
mais próximo deles. Talvez, digital, o professor pareça até mais humano.
3- Permite refletir sobre
suas colocações
O aspecto mais saudável do blog, e talvez o mais
encantador, é que os posts sempre podem ser comentados. Com isso, o professor,
como qualquer “blogueiro”, tem inúmeras oportunidades de refletir sobre as suas
colocações, o que só lhe trará crescimento pessoal e profissional. A primeira
reação de quem passou a vida acreditando que diários devem ser trancados com
cadeado, ao compreender o que é um blog, deve ser de horror: “O quê? Diários
agora são públicos?”. Mas pensemos por outro lado: que oportunidade maravilhosa
poder descobrir o que os outros acham do que dizemos e perceber se as pessoas
compreendem o que escrevemos do mesmo modo que nós! Desse modo, podemos refinar
o discurso, descobrir o que causa polêmica e o que precisa ser mais bem
explicado ao leitor. O professor “blogueiro” certamente começa a refletir mais
sobre suas próprias opiniões, o que é uma das práticas mais desejáveis para um
mestre em tempos em que se acredita que a construção do conhecimento se dá pelo
diálogo.
4- Liga o professor ao mundo
Conectado à modernidade tecnológica e a uma nova
maneira de se comunicar com os alunos, o educador também vai acabar
conectando-se ainda mais ao mundo em que vive. Isso ocorre concretamente nos
blogs por meio dos links (que significam “elos”, em inglês) que ele é convidado
a inserir em seu espaço. Os blogs mais modernos reservam espaços para
links, e logo o professor “blogueiro” acabará por dar algumas sugestões ali. Ao
indicar um link, o professor se conecta ao mundo, pois muito provavelmente deve
ter feito uma ou várias pesquisas para descobrir o que lhe interessava. Com
essa prática, acaba descobrindo uma novidade ou outra e tornando-se uma pessoa
ainda mais interessante. Além disso, o blog será um instrumento para conectar o
leitor a fontes de consulta provavelmente interessantes. E assim estamos todos
conectados: professor, seus colegas, alunos e mundo.
5- Amplia a aula
Não é preciso dizer que, com tanta conexão
possibilitada por um blog, o professor consegue ampliar sua aula. Aquilo que
não foi debatido nos 45 minutos que ele tinha reservados para si na escola pode
ser explorado com maior profundidade em outro tempo e espaço. Alunos
interessados podem aproveitar a oportunidade para pensar mais um pouco sobre o
tema, o que nunca faz mal a ninguém. Mesmo que não caia na prova.
6- Permite trocar
experiências com colegas
Com um recurso tão divertido em mãos, também é
possível que os colegas professores entrem nos blogs uns dos outros. Essa troca
de experiências e de reflexões certamente será muito rica. Em um ambiente onde
a comunicação entre pares é tão entrecortada e limitada pela disponibilidade de
tempo, até professores de turnos, unidades e mesmo escolas diferentes poderão
aprender uns com os outros. E tudo isso, muitas vezes, sem a pressão de estarem
ali por obrigação. (É claro que os blogs mais divertidos serão os mais
visitados. E não precisamos confundir diversão com falta de seriedade
profissional.)
7- Torna o trabalho
visível
Por fim, para quem gosta de um pouco de
publicidade, nada mais interessante que saber que tudo o que é publicado (até
mesmo os comentários) no blog fica disponível para quem quiser ver. O professor
que possui um blog tem mais possibilidade de ser visto, comentado e conhecido
por seu trabalho e suas reflexões. Por que não experimentar a fama pelo menos
por algum tempo?
Antes de fazer seu próprio blog, vale a pena
consultar as realizações de algumas pessoas comuns ou dos mais variados
profissionais. Faça uma busca livre pela Internet para descobrir o que se faz
nos blogs pelo mundo afora e (re)invente o seu!
Referências bibliográficas:
KOMESU, Fabiana Cristina. Blogs e as práticas de
escrita sobre si na Internet. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio
Carlos. Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
LEARNING and Leading with Technology. BlogOn,
2005. vol 32, n. 6.
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Betina von Staa é
coordenadora de pesquisa em tecnologia educacional e articulista da divisão de
portais da Positivo Informática. Autora e docente de cursos on-line para a
COGEAE, a Fundação Vanzolini e o UnicenP, é doutora em Lingüística Aplicada e
Estudos da Linguagem pela PUC-SP.
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